quinta-feira, junho 16, 2005

Olhando à janela

Bem,

Como predisse nosso caro amigo Bolha... desculpe... Mané, posto aqui um 'testículo' caça elogios que fiz para um trabalho academico, mas que tem sua poesia... Espero que seja inspirador... É meio grandinho, mas deixa de ser preguiçoso (a)! Ce num tá fazendo nada mesmo, senao nao estaria lendo blog! HEHE



“Say it with flowers” é o nome desta obra do artista britânico Banksy (www.banksy.co.uk).

Ao invés de um coquetel molotov, arma caseira utilizada por guerrilheiros em conflitos urbanos, flores. Qual será a intenção dessa imagem?

Talvez seja uma expressão do novo ativismo, que utiliza da poesia para subverter valores, que tenta resgatar a afetividade na contemporaneidade. O egoísmo reina num mundo onde a sobrevivência é resultado de uma relação de troca meramente orgânica. Mas sempre haverá os insatisfeitos, aqueles que ainda não se cegaram diante dos outdoors e dos discursos esvaziados da política convencional. Estes ainda lutam por novas opções, alternativas, tentativas de resgate da liberdade que lhes foi roubada.

As metrópoles são o espaço onde os signos do pragmatismo tomam forma, resultando na melancolia social, na apatia. O mercado é o grande legislador e mentor da modernidade. A cidade reflete a mentalidade difundida por essa sede de lucro.

Mas essa conjuntura não acaba com a possibilidade de se estabelecer uma relação com as coisas e com as pessoas de forma distinta da que nos parece imposta.

Existe aí um tipo de corrida de velocidade entre a consciência coletiva humana, instinto de sobrevivência da humanidade e um horizonte de catástrofe e de fim do mundo humanos dentro de alguns decênios! Perspectiva que torna nossa época ao mesmo tempo aterorizadora e apaixonante, já que fatores ético-políticos adquirem aí uma relevância que, ao longo da história, anteriormente jamais tiveram.

Guattari, Félix. Restauração da Cidade Subjetiva

Parece que há uma convergência de idéias entre os autores que refletem sobre as questões da contemporaneidade. Há um sentimento de angústia diante da configuração da sociedade, mas a forma apontada para que uma nova relação se estabeleça intra-socialmente está longe de ser de uma forma revolucionária.

Primeiro, a revolução até hoje não nos levou à concretização desse sonho. A visão ganha vida no momento do levante - mas assim que a “revolução” triunfa e o Estado retorna, o sonho e o ideal já estão traídos. Não deixo de ter esperança, nem deixo de ansiar por mudanças - mas desconfio da palavra revolução. Em segundo lugar, mesmo se substituirmos a abordagem revolucionária pelo conceito de levante transformando-se espontaneamente numa cultura anarquista, a nossa situação histórica específica não é propícia para tarefa tão vasta, Absolutamente nada, alem de um martírio inútil, poderia resultar de um confronto direto com o Estado terminal, esta megacorporação/Estado de informações, o império do Espetáculo e da simulação.

Bey, Hakim – TAZ (Zona Autônoma Temporária)

Neste ponto retornamos à figura que ilustra o início deste texto. O confronto direto perdeu seu sentido na medida em que inúmeras são as forças que conspiram contra aqueles que anseiam por transformação.

Hakim Bey criou o conceito de TAZ (sigla em inglês que designa Zona Autônoma Temporária). “Estamos nós, que vivemos no presente, condenados a nunca experimentar a autonomia, nunca pisarmos, nem que seja por um momento sequer, num pedaço de terra governado apenas pela liberdade?”, questiona ele nas primeiras páginas de seu livro que traz o conceito de TAZ.

As TAZ são o buraco no sistema, são a arte de burlar as regras impostas, a hierarquia vigente, aos mecanismos de controle limitadores da liberdade individual e coletiva. Como o próprio autor diz:

A TAZ é uma espécie de rebelião que não confronta o Estado diretamente, uma operação de guerrilha que libera uma área (de terra, de tempo, de imaginação) e se dissolve para se re-fazer em outro lugar e outro momento, antes que o Estado possa esmagá-la. Uma vez que o Estado se preocupa primordialmente com a simulação e não com a substância, a TAZ pode, em relativa paz e por um bom tempo “ocupar” essas áreas e realizar os seus propósitos festivos.

Idem

Portanto, as TAZ são uma forma de experimentação social através da qual idéias novas são colocadas em conflito com as já estabelecidas, na esperança de semear uma vontade geral de mudança.

A experimentação social visa espécies particulares de “atratores estranhos’, comparáveis aos da física dos processos caóticos. Uma ordem objetiva “mutante”pode nascer do caos atual de nossas cidades e também uma nova poesia, uma nova arte de viver. Essa “lógica do caos” pede que se examinem bem as situações em sua singularidade.

Guattari, Félix. Restauração da Cidade Subjetiva

É uma tarefa difícil de ser realizada essa constante experimentação social, nem todos tem talento ou sentem-se à vontade para expressar essa “arte de viver”, mas no fundo é o que muitos anseiam secretamente. Há uma espécie de energia potencial libertadora dentro de cada um de nós, mas que precisa ser descoberta antes de ser estimulada por nós mesmos ou por terceiros. O prazer que algumas pessoas extraem da experiência cotidiana pode ser um sinal de que essa tal energia potencial esteja se transformando em felicidade.

O famoso arquiteto Bernard Tschumi aponta caminhos para estabelecermos uma relação de afetividade com a cidade:

“As grandes cidades são favoráveis à distração que chamamos de deriva. A deriva é uma técnica do andar sem rumo. Ela se mistura à influência do cenário. Todas as casas são belas. A arquitetura deve se tornar apaixonante. Nós não saberíamos considerar tipos de construção menores. O novo urbanismo é inseparável das transformações econômicas e sociais felizmente inevitáveis. É possível se pensar que as reinvidicações revolucionárias de uma época correspondem à idéia que essa época tem da felicidade. A valorização dos lazeres não é uma brincadeira. Nós insistimos que é preciso se inventar novos jogos”.

O ponto de vista desse arquiteto é convergente com o pensamento situacionista, crítica anticapitalista surgida na década de 60 cujo expoente foi Guy Debord, que retrata a subjetividade perdida na cidade ao apresentar em seu livro “Introdução a uma crítica da geografia urbana” o conceito de psicogeografia:

“A brusca mudança de ambiência numa rua, numa distância de poucos metros; a divisão patente de uma cidade em zonas de climas psíquicos definidos; a linha de maior declive - sem relação com o desnível - que devem seguir os passeios a esmo; o aspecto atraente ou repulsivo de certos lugares; tudo isso parece deixado de lado. Pelo menos, nunca é percebido como dependente de causas que podem ser esclarecidas por uma análise mais profunda, e das quais se pode tirar partido. As pessoas sabem que existem bairros tristes e bairros agradáveis. Mas estão em geral convencidos de que as ruas elegantes dão um sentimento de satisfação e que as ruas pobres são deprimentes, sem levar em conta nenhum outro fator”.

O comportamento cultural está cada vez menos associado com o espaço geográfico. As cidades não fogem essa regra. Apesar da cidade ser um espaço geográfico regido por uma burocracia comum a maioria da população, isso não implica de modo algum em uma homogeneização cultural. O mundo contemporâneo conta com diversos mecanismos que contribuem no caminho inverso, o da desfragmentação cultural. As novas tecnologias, os meios de comunicação em massa, a violência urbana, a disparidade econômica entre seus habitantes, tudo isso leva a população das cidades a isolar-se em pequenos grupos de pessoas com interesses similares. A individualidade vem cada vez mais cedendo lugar ao individualismo. A cidade já não é mais o lugar onde pessoas se encontram no centro, como um fórum de discussão das questões comuns, pois estas questões comuns são cada vez mais raras. Muitos nem sequer tem qualquer relação com o centro da cidade. Quando o centro perde seu sentido para muitos, parece ser um sinal claro da perda do sentido da cidade.



3 Comments:

Blogger sinapse said...

Se for por causa do IDEM gigante no meio do texto, nao me pergunte... tentei diminuir a fonte daquele troço varias vezes e nada. nota-se que desisti.

2:51 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Quem sabe um dia... a Ilha de Flamboyant pode crescer... haja côco nesse mundo... Sempre vc, né, T.?

9:20 AM

 
Blogger sinapse said...

nao seria a ilha de Bougainville? heheh

2:23 PM

 

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